Teologia da Comida contra os puritanismos

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Henry Louis Mencken (1880–1956) certa vez definiu o puritanismo como “o medo assombrador de que alguém, em algum lugar, possa estar feliz”. Essa é uma definição é, em si, assombradora, especialmente para alguém (não eu) que tenha algum apreço particular pelo puritanismo histórico. Afinal, o medo da felicidade alheia está bem perto da definição da inveja, mas aqui parece haver uma diferença crucial e talvez ainda mais assustadora: não se trata, como na inveja, de um desejo de roubar a felicidade alheia, mas apenas de eliminá-la, persegui-la, puni-la. “O novo puritanismo não é ascético, mas militante. Ele não almeja alçar santos, mas derrubar pecadores.” O puritano seria um inimigo de todos, usando de ferro e fogo para infernizar a vida alheia. Continue lendo “Teologia da Comida contra os puritanismos”

Paciência: a importância de (não) aceitar o sofrimento

Flagellation of our Lord Jesus Christ - Bourguereau

Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto esse jugo Deus pôs sobre ele; ponha a boca no pó; talvez ainda haja esperança. Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta. O Senhor não rejeitará para sempre; pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias; porque não aflige, nem entristece de bom grado os filhos dos homens. Lamentação 3:27-33

Não é fácil encontrar o lugar da resignação na fé cristã. O próprio Cristo nos parece o modelo máximo de resignação e irresignação. Ele curou cegos, leprosos e paralíticos, libertou possessos, se opôs aos poderes constituídos deste mundo — os líderes judeus e romanos que agiam como títeres das hostes espirituais da maldade —, e elogiou o exemplo de fé de várias pessoas que, não se resignando à doença e ao diabo, procuraram nele cura e libertação. Mas, como um cordeiro mudo, Cristo desceu ao seu suplício, e, mesmo temeroso do sofrimento que teria de padecer, orou entregando-se à vontade do Pai — “não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Mc. 14:36) —, levando sobre si e expiando a culpa de todos pelo sacrifício de si mesmo, o justo pelos injusto. Continue lendo “Paciência: a importância de (não) aceitar o sofrimento”