Mitos evangélicos sobre conversão

Semeador - Van Gogh (cortado)

“Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a sessenta e a cem por um.” (Marcos 4:30)

Um mito persistente na pregação evangélica é o de que é necessário, para a conversão, fazer uma “oração de conversão” ou “oração do pecador”. A Bíblia desconhece a prática de uma oração de conversão ou oração do pecador, que se tornou tão onipresente no evangelicalismo americano e brasileiro. Continue lendo “Mitos evangélicos sobre conversão”

Romanos 7:7-25 não é sobre você (eu espero)

Rembrandt - Apóstolo Paulo

“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.” (Romanos 7:15)

No tempo presente, a vida cristã é de constante combate contra os diversos pecados e tentações. Mesmo que saibamos que a vitória sobre o pecado se é realizada por Cristo em nós, a experiência cristã comum é a de que o pecado ainda é uma realidade poderosa, mesmo que não seja a realidade dominante. No sentimento correto e muito justo de buscar, na Sagrada Escritura, voz para as próprias tensões, frequentemente os intérpretes de Rm. 7:7-25 vêem nas palavras de Paulo um eco dessa experiência comum: boas intenções que não conseguem vencer o pecado, não conseguem produzir boas ações. Continue lendo “Romanos 7:7-25 não é sobre você (eu espero)”

Pecado para a morte

Descamps O SuicídioSe alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue. Toda injustiça é pecado, e há pecado não para morte.
(I João 5:16,17)

O que é o pecado para a morte? Por que não rogar pelo que comete esse pecado? Esse é um dos mistérios da Primeira Epístola de João. Há elementos ao longo da carta que, se lidos com atenção e dentro do contexto da tradição joanina, permitem identificar, com razoável probabilidade, o que seja esse pecado. Parece-me até que o “pecado para a morte” seja uma face do tema central da carta, ainda que a referência à intercessão seja uma digressão. Continue lendo “Pecado para a morte”

Sobre Hipocrisia

Cranach

“Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes, e fazei-vos um coração novo e um espírito novo; pois, por que razão morreríeis, ó casa de Israel?” (Ezequiel 18:31)

Mude o seu coração, essa é a mensagem de Ezequiel. Os cristãos de nossa época têm tido particular dificuldade em levar a sério a necessidade — a obrigação —  de mudarem os seus corações, em razão de uma “compreensão” bastante equivocada sobre o lugar dos sentimentos na identidade pessoal. Continue lendo “Sobre Hipocrisia”

São Paulo, o eclesiólogo

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“Então, houve grande pranto entre todos, e, abraçando afetuosamente a Paulo, o beijavam, entristecidos especialmente pela palavra que ele dissera: que não mais veriam o seu rosto. E acompanharam-no até ao navio.” (Atos 20:37,38)

Desde a Reforma Protestante, o apóstolo Paulo de Tarso é lembrado como defensor do “evangelho da graça de Deus” (At. 20:24) e como grande missionário, um dos responsáveis pela pregação do Evangelho e fundação de comunidades cristãs na Europa. O impacto de Paulo na formação do cristianismo e na sua teologia é incalculável. Continue lendo “São Paulo, o eclesiólogo”

O Matrimônio é um dom

casamento

“Gostaria que todos os homens fossem como eu;
mas cada um tem o seu próprio dom da parte de Deus;
um de um modo, outro de outro.”
(1 Coríntios 7:7)

Freqüentemente se olha para 1 Coríntios 7 na perspectiva do celibato “por causa do reino dos céus” (Mt. 19:12). É mais incomum que se deixe de observar as conseqüências fascinantes da declaração paulina de que o casamento também é um dom da parte de Deus. Ao contrário do que ocorre na ordem civil moderna, o matrimônio cristão não é um direito, mas algo recebido gratuitamente. Afinal, ninguém pode exigir coisa alguma de Deus. É uma vocação. Continue lendo “O Matrimônio é um dom”

Espiritualidade Cristã (6): A Disciplina

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“Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento;” (1Coríntios 14:15b)

O apóstolo Paulo nos ensina a orar “sem cessar” (1Ts. 5:17). Quando lemos suas cartas, vemos que elas iniciam com declarações de como o apóstolo orava pelas igrejas que fundou. Se suas palavras são verdadeiras, como cremos que são, ele nunca deixava de orar por elas. O exemplo da oração é visto na pessoa do próprio Filho de Deus, que buscava lugares isolados para orar (Mt. 14:23; cf. Mt. 6:6). Continue lendo “Espiritualidade Cristã (6): A Disciplina”

Espiritualidade Cristã (5): Hipocrisia

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“O Senhor não vê como o homem:
o homem vê a aparência,
mas o Senhor vê o coração”
(1Sm. 16:7b)

Como amar quem não amamos? Há pessoas amáveis, pessoas fáceis de se amar, como há também pessoas refratárias ao amor. O compromisso cristão é de amar a todos. C. S. Lewis ensinou um segredo sobre como lidar nessas situações: disse que não devemos nos preocupar em saber se amamos ou não alguém; devemos agir como se amássemos. O segredo é que quando começamos a agir com amor, passamos a amar. De fato, nós modernos nos preocupamos demais com o amor como sentimento que nos toma, quando na realidade o amor é também um compromisso que decidimos e um comportamento que assumimos. Continue lendo “Espiritualidade Cristã (5): Hipocrisia”

Espiritualidade Cristã (4): A pobreza de espírito

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“Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre;
e eles confiarão no nome do Senhor.”
 (Sofonias 3:12)

As bem-aventuranças estão entre as palavras mais famosas de Jesus, especialmente na versão de São Mateus, introduzindo o Sermão da Montanha. Nessas palavras de esperança se expressa o destino feliz dos virtuosos. A primeira delas nos diz que são bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mt. 5:3). Continue lendo “Espiritualidade Cristã (4): A pobreza de espírito”

Hermenêutica do Amor

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“E como vós quereis que os homens vos façam,
da mesma maneira lhes fazei vós, também.”
(Lucas 6:31)

Recentemente surgiu uma polêmica em torno de uma declaração, feita pelo pontífice romano, de que Jesus teria “fracassado” na cruz. Quem ouvir ou ler as palavras originais de Francisco perceberá que ele simplesmente repetiu o que todos os cristãos de todas as confissões sempre disseram sobre a crucificação — da perspectiva do triunfo terreno, a cruz é um fracasso. Não há o que discutir. Mas é curioso o número de pessoas que apostaram na malícia, muitas delas católicas romanas. Continue lendo “Hermenêutica do Amor”