Orações para o Natal

Aqui para vocês uma pequena lista de orações breves retiradas de vários lugares, principalmente do Livro de Oração Comum. Uma sugestão é usar algumas dessas orações diariamente, desde a véspera de Natal até o dia da Epifania (6 de janeiro). Ore pausadamente e com fé.

☩ Oração do Dia da Natividade do Senhor (Natal)
Deus Onipotente,
que nos deste teu unigênito Filho para que tomasse sobre si a nossa natureza,
e nascesse neste tempo de uma Virgem pura;
concede que nós, renascidos e feitos teus filhos por adoção e graça,
sejamos de dia em dia renovados por teu Santo Espírito;
mediante nosso Senhor Jesus Cristo.
Amém.

☩ Oração do Dia da Natividade do Senhor (Natal), II
Ó Deus, que criaste maravilhosamente,
e ainda mais maravilhosamente restauraste,
a dignidade da natureza humana;
concede que sejamos participantes da natureza divina do teu Filho Jesus Cristo,
assim como ele se humilhou para participar da nossa humanidade.
Amém.

☩ Pela Paz no Mundo
Ó Deus, nosso Pai, olha com misericórdia todos os teus filhos;
purifica os nossos corações de todo ódio, falsidade e preconceito;
e guia-nos pela tua sabedoria amorosa
de tal modo que a paz e a justiça se estabeleçam entre todos,
por Jesus Cristo, nosso Senhor.
Amém.

☩ Pela Alegria na Criação de Deus
Ó Pai Celestial, que encheste o mundo de beleza;
abre, nós te pedimos, os nossos olhos
para contemplar tua mão graciosa em todas as tuas obras,
para que, jubilando em tua criação inteira,
aprendamos a te servir com alegria
por aquele por quem todas as coisas foram feitas,
teu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor.
Amém.

☩ Pelo Reino de Cristo
Deus todo-poderoso e eterno,
cuja vontade é restaurar todas as coisas em teu Filho amado,
o Rei dos reis e Senhor dos senhores;
misericordioso concede que todos os povos da terra,
agora divididos e escravizados pelo pecado,
sejam livres e reunidos sob o teu graciosíssimo governo.
Amém.

☩ Por Verdadeira Devoção
Concede-nos, ó Senhor,
não atentarmos para as coisas terrenas,
mas amarmos as eternas;
e, enquanto peregrinamos entre as coisas que passam,
nos apegarmos às que permanecerão,
por Jesus Cristo, nosso Senhor.
Amém.

☩ Chamado à Adoração Celestial     |   Salmos 148:1-2; 103:19-22
¹ Aleluia!
  Louvai ao Senhor do alto dos céus,
  louvai-o nas alturas.
² Louvai-o, todos os seus anjos;
  louvai-o, todas as suas legiões celestes.
¹⁹ Nos céus, estabeleceu o Senhor o seu trono,
  e o seu reino domina sobre tudo.
²⁰ Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos,
  valorosos em poder, que executais as suas ordens
  e lhe obedeceis à palavra.
²¹ Bendizei ao Senhor, todos os seus exércitos,
  vós, ministros seus, que fazeis a sua vontade.
²² Bendizei ao Senhor, vós, todas as suas obras,
  em todos os lugares do seu domínio.
  Bendize, ó minha alma, ao Senhor.

A Apologética do Demônio

Uma das artimanhas mais antigas e constantes do diabo é lançar sutilmente incertezas e dúvidas para minar a fé dos filhos de Deus.

Se ele certamente maquina para nos fazer pensar que somos grandes demais, poderosos demais, ele também procura, por todos os meios, que nos imaginemos incapazes de fazer o aquilo que, sabemos perfeitamente bem, nós podemos, subestimando as nossas faculdades, duvidando dos nossos dons, suspeitando dos nossos sentidos, tudo para nos paralisar quando devemos agir — inclusive tomando a humildade por pretexto.

Existe uma abordagem “apologética” que eu já vi ser utilizada tanto por profissionais quanto por diletantes, por protestantes tentando convencer outros protestantes acerca da necessidade da Tradição, por católicos romanos procurando convencer evangélicos de coisas semelhantes, por escrituralistas e “cosmovisionários”: a artimanha de propor a dúvida, para vender certeza.

Nós gostamos de certezas, é claro. Pense em quantas pessoas se apegam a leituras empobrecidas dos textos bíblicos por lhes garantirem as promessas vãs e vulgares de “certeza da salvação” ou da “segurança eterna” ou coisa que valha.

A artimanha da dúvida está em nos fazer questionar a capacidade da razão, da sensibilidade, da intuição, do esforço, do talento. Dizem coisas como: se não for pela Tradição tal, a Escritura se torna incompreensível, ou excessivamente enigmática, além da nossa capacidade, além da nossa inteligência.

Ou qualquer outra bobagem condescendente e paternalista parecida.

São Tomás, como eu costumo lembrar, afirmava nossa capacidade de conhecer a verdade da Escritura por nossa própria leitura — o Credo (a síntese eclesiástica da Escritura) é necessário por conta do trabalho imenso que seria uma investigação pessoal tal. Não por algum tipo de obtusidade crônica que atacasse particularmente os cristãos.

Pensa-se assim: não somos capazes de entender nada, uma autoridade pensa por nós, estamos a salvo. A consequência mais grave da apologética do demônio — o ceticismo —, empregada por cristãos como arma contra outros cristãos, é semear no coração dos nossos semelhantes uma estrutura de pensamento incapacitante, que acaba por levar ao ateísmo ou ao cinismo, no momento em que a autoridade se mostrar inconfiável. É a troca do intelectualismo extático da Igreja pelo irracionalismo lânguido do século.

O Senhor nos recomenda a astúcia da serpente, mas não o seu veneno, e obviamente não contra os nossos irmãos. Quem tem o soro não pode garantir que não haverá sequelas.

Existe, é verdade, certa doçura infantil em repousar no juízo eclesiástico quanto a questões que estejam, no momento, além de nossa própria labuta. Sempre haverá questões assim. Muitos de nós terão de confiar no juízo do Senhor em repelir o divórcio, antes de poder entender como tal coisa se fundamenta.

Mas ela não representa, de maneira alguma, o telos da humanidade transformada. A auto-infantilização não é uma virtude: “sede meninos na malícia e adultos no entendimento” (1Co 14:20). Pode ser simplesmente uma forma de enterrar os talentos por medo da dureza do Senhor.

Ou só conversa para boi dormir.

Rev. Gyordano M. Brasilino

O que é ser um fariseu?

Há uns dias, eu vi alguém dizer que Cristo não condenou a doutrina dos fariseus, somente a sua hipocrisia. Bom, segundo o Evangelho de São Mateus, Cristo condenou “a doutrina dos fariseus” (Mt 16:12).

É claro que ele não condenou tudo no que os fariseus acreditavam — eles, assim como nós, acreditavam na ressurreição, acreditavam na vida eterna, acreditavam nas Escrituras Sagradas dos profetas. Mas havia algo em sua doutrina que melava tudo. O que nos detém aqui não é um retrato histórico detalhado dos fariseus, mas o seu retrato canônico.

Quando vemos o retrato dos fariseus nos evangelhos, há um traço em comum, condenado por Cristo: sua incapacidade de conectar, na doutrina, o amor a Deus ao amor ao próximo. Essa era uma das ênfases do ensinamento de Cristo, segundo o qual nossas ofertas a Deus só terão valor quando procurarmos o perdão do irmão (Mt 5:23-24).

Assim, em Mateus 9:11-13, os fariseus reprovam a atitude de Cristo de comer com pecadores, e Cristo apela para o dito profético: “Misericórdia quero, e não sacrifício”. Em outras palavras: o maior gesto de adoração a Deus é a misericórdia. Os fariseus sabiam, muito bem, que as esmolas eram como sacrifícios e tinham por recompensa o perdão divino, um ensinamento judaico onipresente no período do Segundo Templo e no rabinato posterior. Mas faltava reformar toda a sua prática religiosa à luz da verdade fundamental enunciada por Cristo.

Em Marcos 7, os fariseus reprovam os discípulos de Cristo por comerem com “mãos impuras”. Segundo Cristo, eles usavam o cumprimento de uma obrigação religiosa para com Deus (a oferta) para suprimir uma obrigação piedosa para com os pais (a honra), dispensando um mandamento menor (a honra aos pais) através de um mandamento maior (a adoração a Deus), mas somente porque sua tradição lhes ensinava assim. Segundo Cristo, eles faziam “outras coisas semelhantes” (v. 13). Por que Cristo dá justamente essa resposta, se o assunto era a pureza das mãos? Porque, mais uma vez, o assunto da pureza das mãos revelava a desconexão entre o amor a Deus e o amor ao próximo.

Em Mateus 23:23-24, Cristo os reprova por prestarem culto a Deus através das mínimas coisas — uma prova de sua meticulosidade, detalhamento, zelo —, mas esqueciam as mais importantes: “a justiça, a misericórdia e a fidelidade”.

Na famosa Parábola do Fariseu e do Publicano (Lc 18:9-14), o fariseu é retratado como alguém de religião eloquente, que faz uma oração que todos nós aprendemos a fazer, de um sabor espiritual agostiniano: dá graças a Deus por sua vida espiritual, pelo que tem, pelo que vive. Mas essas palavras vêm, desde o começo, misturadas com o veneno do julgamento: “não sou como os demais homens”. Seu culto a Deus consistia em desprezo à humanidade.

Assim como nós, os fariseus sabiam que os mandamentos não eram todos iguais, que alguns mandamentos eram mais importantes do que outros. Mas eles pensavam como se um mandamento maior pudesse ser motivo para derrogar o menor, como se o zelo extremo para com Deus pudesse justificar um desprezo para com o próximo. O farisaísmo é uma “heresia” sobre a hierarquia dos mandamentos de Deus.

Até hoje, o espírito farisaico sobrevive entre os cristãos.