Respostas simples sobre Regeneração Batismal

Baptism of Pocahontas | Architect of the Capitol
  1. O que é Regeneração Batismal?

É a doutrina segundo a qual o propósito e a finalidade principais do sacramento do Batismo consistem em conceder aos batizados a graça da regeneração. Essa graça é a união dos homens com Cristo, e, consequentemente, a remissão dos seus pecados e a restauração da imagem de Deus neles, lhes permitindo participar da vida divina. Secundariamente, a regeneração batismal implica a necessidade ordinária do batismo para a salvação. Essa necessidade existe não como um “requisito” para a salvação, mas em razão daquilo que o Batismo realiza.

Dito de outro modo, existe um vínculo entre o sinal exterior e visível (água, usando a fórmula trinitária) e a graça interior e espiritual, de modo que, quando o sinal visível é validamente usado, a graça interior é concedida. O sacramento do Batismo é sinal eficaz da graça da regeneração. A Regeneração Batismal é o vínculo entre o sinal exterior e visível e a graça interior e espiritual. Paulo dá certeza desse vínculo ao escrever: “se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Rm 6:5).

  1. A Regeneração Batismal é uma doutrina bíblica?

Sim, a Regeneração batismal é uma doutrina inteiramente bíblica. Na realidade, a Bíblia não ensina, acerca do propósito do Batismo, nada além da Regeneração batismal. Se a Regeneração batismal fosse falsa, a Bíblia não teria nada a dizer sobre o propósito do Batismo, e aí teríamos que inventar várias coisas sobre o propósito do Batismo, como o fazem aqueles que, sem qualquer fundamento nas Escrituras, dizem que o propósito do Batismo é afirmar a fé ou conversão publicamente. Todos os textos bíblicos que ensinam algo sobre o propósito do Batismo ensinam que o Batismo salva, isto é, que o Batismo “provoca” algumas dimensões necessárias da salvação. Alguns textos bíblicos que exemplificam a Regeneração Batismal são Jo 3:5; At 2:38; 22:16; Rm 6:3-7; 1Co 12:13; Gl 3:26-27; Cl 2:11-13; 1Pe 3:21, dentre outros. Esses textos dependem de se entender que há um só Batismo (Ef 4:5).

  1. A Regeneração batismal contradiz a salvação pela graça e por meio da Fé?

Não. O Batismo é meio de graça. Isso significa que esse sacramento é o momento/lugar em que a graça é recebida. Ele funciona como um canal da graça, de modo que a nossa fé recebe através do sacramento a salvação. Portanto o batismo não é inimigo da Graça. Ele é graça.

Geralmente as pessoas têm dificuldade com essa noção quando presumem que o Batismo é uma obra que nós realizamos. Mas o batismo não é uma obra que o batizado realiza. É uma obra que Deus realiza através do sacramento. A água, por si mesma, não tem qualquer eficácia para salvar. Deus realiza a obra salvífica pelo poder do Espírito Santo agindo através do sacramento, em razão de uma promessa. As águas do rio Jordão não tinham poder para curar; mas, quando Naamã tomou sete banhos nela, foi curado de sua lepra, por conta de uma promessa divina.

Analogamente, podemos dizer que recebemos muitas bênçãos de Deus quando oramos com fé. A fé e oração não são inimigas. A oração é o momento em que a fé se coloca diante de Deus, para ser abençoada. Com o sacramento do batismo acontece coisa semelhante, com a diferença, já indicada acima, de que o batismo não é coisa que o batizado realiza (enquanto a oração o é). Quando, por exemplo, pedimos o perdão dos nossos pecados com fé, através da oração, somos perdoados e esse perdão se dá através de uma obra que realizamos (a oração) e essa obra é a oração. Seria tolice pensar que a oração, nesse momento, de alguma maneira elimina a graça ou a fé. Assim também, é tolice pensar que o sacramento do batismo elimina a graça e a fé. A oração é um meio. O sacramento é um meio.

Não custa lembrar que o grande campeão da justificação pela fé, o reformador alemão Martinho Lutero, era ao mesmo tempo grande defensor da justificação pela graça por meio da fé e do batismo regenerativo (locus iustificationis).

  1. A Regeneração Batismal torna a salvação mérito humano?

Não. Dá-se justamente o contrário. O Batismo nos mostra que a salvação é recebida — ninguém batiza a si mesmo. Isso se torna muito claro quando entendemos o batismo de crianças, que não têm nem poder ter nenhum mérito ou escolha quanto ao seu Batismo. Simplesmente recebem.

Igualmente, mesmo quando somos batizados por um ministro sumamente ímpio, mesmo que, em seu coração, ele seja ateu e profundamente hipócrita, mesmo que ele seja o pior de todos os homens quanto à sua vida moral, mesmo que tenha inúmeros pecados secretos ou mesmo inúmeros pecados notórios e divulgados, a eficácia do Batismo não depende nada de sua virtude moral. Depende da santidade perfeita de Cristo, o único Salvador. Não é o mérito dele (em realizar essa ação) que traz a salvação, mas sim uma promessa divina, cumprida infalivelmente. A eficácia do Sacramento é cristocêntrica. Portanto a salvação não depende nem do mérito de quem é batizado nem do mérito de quem batiza, humanamente falando, mas daquele que batiza espiritualmente falando, isso é, Cristo.

Isso é um pouco obscurecido por uma prática comum em certos ramos evangélicos: exige-se que o batizando demonstre um certo padrão moral mínimo em seu comportamento. Desse modo, o Batismo deixa de ser visto como um presente recebido e passa a se parecer com uma conquista social realizada. É algo a se alcançar, não uma dádiva a se receber. Alguém que visualiza o batismo assim terá, naturalmente, muita dificuldade com a Regeneração Batismal. Mas essas exigências moralistas não são bíblicas e não devem nos deter na investigação da doutrina bíblica do Batismo.

  1. A Regeneração Batismal vai contra a Reforma Protestante?

Não. Embora ela certamente contradiga a doutrina de Zuínglio e de todos aqueles que foram influenciados por ele, ela está plenamente de acordo com o ensinamento de Lutero, de Calvino (em alguns lugares), da tradição anglicana e de vários outros ramos menores. Até o Catecismo Menor de Westminster (reformado) fala dos sacramentos como “meios de salvação” (Q91).

No entanto, precisamos perguntar: que relevância essa pergunta tem? Somos de algum modo obrigados a concordar com os teólogos da Reforma Protestante? De onde vem essa obrigação? Por que seria mais importante a opinião dos teólogos da Reforma que a opinião dos Pais da Igreja?

  1. Todo mundo que não é batizado está condenado? Há regeneração sem Batismo?

Como dito acima, o Batismo é ordinariamente necessário a salvação. Isso não significa que todos os que morrem sem o sacramento estejam automaticamente condenados. Deus não está limitado ao sacramento, nós é que o estamos. Por isso, ninguém pode negligenciar o sacramento. Rejeitar o batismo é rejeitar Cristo. Adiar o Batismo é adiar Cristo. Brincar com o Batismo é brincar com Cristo. Deus prometeu graça através do batismo e devemos receber a promessa divina humildemente, sem questioná-la. Mas, embora Deus não o tenha prometido, ele pode salvar sem o sacramento. Isso aconteceu como todos os santos que morreram antes da Ressurreição do Senhor — todos eles morreram sem o sacramento do Batismo e receberam em Cristo a graça da vida eterna através dele.

Como analogia, afirmamos que a pregação do Evangelho é ordinariamente necessária para a salvação dos homens. Não há outro caminho. Mas uma criança, falecida na graça divina, é salva sem a pregação do Evangelho. Isso não dispensa o Evangelho, como se fosse desnecessário à salvação. Assim também, o Batismo não se torna desnecessário por Deus poder conceder a graça batismal sem o sinal visível.

  1. Por que “ex opere operato” e não outra posição?

A eficácia do Batismo é descrita, na linguagem escolástica, como “ex opere operato“, significando o que, uma vez realizado validamente, esse sacramento “ocasiona”, “causa” ou “provoca” o seu resultado infalivelmente. Isso significa que a validade do sacramento não depende da santidade ou mérito de quem o ministra ou de quem o recebe. Depende apenas da fidelidade de Cristo, que nunca falha.

A eficácia do sacramento é a capacidade de veicular certa graça, segundo a promessa divina. Nós não somos capazes de mudar isso com nossa fé ou falta de fé. Por isso, eu a chama de Eficácia Cristocêntrica. Essa eficácia não depende de nós, mas de Cristo. Isso não significa que todos os batizados sejam automaticamente salvos. Uma hipócrita, que finja adesão a fé cristã com segundas intenções, e seja assim batizado, não foi, por isso salvo. A graça lhe foi infalivelmente concedida, mas ele só desfrutará dela quando (pela graça) se converter desse mau caminho.

Essa eficácia é sinalizada pelo textos bíblicos que tratam o sacramento em termos generalizantes: “todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte” (Rm 6:3); “todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” (Gl 3:27). Nesses dois casos, Paulo aplica intencionalmente para o batismo uma linguagem que se refere a todos os batizados (“todos quantos fostes/fomos batizados”), quanto a certos efeitos espirituais (“fomos batizados na sua morte”, “vos revestistes de Cristo”). Isso implica a certeza do vínculo entre o sinal exterior e visível e a graça interior e espiritual (Rm 6:5).

Em razão disso, podemos dizer: todo Batismo regenera (no sentido de que ele causa isso), embora nem todo batizado seja automaticamente regenerado. A eficácia do Batismo não está em produzir todo o processo, mas em produzir infalivelmente parte do processo. Em vários batizados, não se verá nenhum efeito visível, nenhuma santidade de vida, embora todo batizado esteja revestido de Cristo e, por isso, seja parte da Igreja.

A posição conhecida como “ex opere operato“, e que eu chamo de Eficácia Cristocêntrica, é a única aceitável porque é a única que não mistura a obra de Deus e a nossa obra, ao mesmo tempo que reconhece o que a Escritura ensina sobre os sacramentos. Qualquer posição não-zuingliana sobre os sacramentos, isto é, qualquer posição que ensina que os sacramentos “fazem algo” espiritualmente, terá que decidir se eles o fazem independentemente de nós ou se com nossa ajuda. Fiquemos com a opção cristocêntrica: o que Cristo faz no sacramento, ele o faz sozinho, sem depender de nós.

  1. Como se dá a Regeneração batismal no batismo de crianças? Isso depende de alguma noção de fé infantil (fides aliena, pedofé etc.)? É necessária a fé para que a Regeneração ocorra?

Quando nosso Senhor, na Escritura Sagrada, explica a nossa conversão e salvação, ele toma como referência os pequeninos, isto é, as criancinhas (Mt 18:3). Essa é uma referência importante, pois significa que não devemos encarar a salvação como se ela fosse uma coisa de adultos, na qual as crianças devem ter alguma maneira se encaixar. É o inverso. A salvação é uma coisa de crianças na qual nós adultos devemos nos encaixar.

Por isso, diversas exigências que há para nós, como a fé “consciente”, o arrependimento e a humildade, não existem para as crianças. Essas exigências existem para nós porque elas são modo como nós nos tornamos pequeninos. Não se exige isso daqueles que já são pequeninos. Então, quando falamos de salvação pela fé, devemos entender que as crianças não são salvas com o mesmo tipo de fé que nos salva. Elas ainda são salvas pela fé, e essa fé que é suficiente para salvação delas é suficiente para que desfrutem dos benefícios que lhe são conferidas no sacramento do batismo, já que o Batismo é meio dessa salvação.

Ora, essa fé não pode ter nos pequenininhos o mesmo tipo de consciência que tem nos adultos. Quer tratemos essa fé como a fé dos pais e padrinhos (fides aliena), quer a tratemos como um dom invisível infuso nas crianças (como Lutero e Calvino ensinavam), ou qualquer outro modo, isso é suficiente para que as crianças desfrutem dos benefícios batismais. Ou, se quisermos dizer que a salvação das crianças independente de qualquer tipo de fé, devemos ser consistentes e dizer que também o batismo delas independe de qualquer tipo de fé. Deus cobra mais daquele a quem ele dá mais.

Em outras palavras: a Regeneração Batismal das crianças independente da posição que tenhamos nessa questão. Ela se ajusta facilmente a qualquer noção de salvação infantil que tenhamos. Ela só não se ajusta à posição (ímpia) de que todas as crianças, independentemente de batismo ou da fé dos pais, estão condenadas até o momento de poderem fazer uma profissão consciente de fé, lá pelos 7 anos, 12 anos ou qualquer outra “idade da razão” que os homens queiram criar como limite.

  1. Existe ordem cronológica entre fé e batismo?

Não. Algumas pessoas tentam deduzir uma sequência lógica do fato de que, em alguns textos, a palavra “fé” aparece antes da palavra “batismo”, como em Mc 16:15. Mas a simples sequência das palavras não indica uma sequência obrigatória dos conceitos. Por isso, a ordem aparece invertida (primeiro o batismo, depois a fé) em alguns textos, como Mt 28:19-20 (“…batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado…”) e Cl 2:12 (“Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus…”). Mais uma vez: a sequência das palavras, por si mesma, não quer dizer nada.

Num contexto missionário, a fé (no sentido de adesão à religião de Cristo) quase sempre precederá o Batismo. Primeiro as pessoas (adultos) crerão e, em seguida, serão batizadas. Não conhecemos o coração de ninguém, mas não queremos batizar adultos que não creiam em Cristo.

  1. O Batismo de João Batista regenerava?

Não. O Batismo de João Batista era uma preparação para o Batismo cristão. Aqueles que anteriormente haviam recebido o Batismo de João tiveram de receber o Batismo cristão (At 19:1-6).

  1. E o “ladrão da cruz”?

Ao contrário do que parecem imaginar os adversários da Regeneração Batismal, o caso do ladrão da cruz não é, em nada, diferente dos demais personagens bíblicos que morreram antes da Ressurreição do Senhor, como Abraão, Moisés, Davi ou Jeremias. Todos eles morreram sem o sacramento do Batismo, embora tivessem recebido o selo prévio da circuncisão (que não tinha a mesma eficácia plena do Batismo). Todos eles, ao morrerem, desciam ao mundo dos mortos, e todos eles foram de lá resgatados por Cristo, que lhes abriu as portas do Paraíso. Aqueles que, depois disso, são batizados e morrem, não descem ao mundo dos mortos, mas sobem a Cristo. Uma nova etapa na história salvífica foi inaugurada, e o ladrão arrepedindo, embora esteja próximo da cruz, ainda está antes da Ressurreição.

Assim, embora a Regeneração Batismal possa admitir a possibilidade de que alguém seja salvo sem o Batismo, o caso do ladrão arrependido (tradicionalmente chamado São Dimas) é ordinário. O Batismo se tornou sacramento da salvação depois da Ressurreição, quando Cristo enviou os discípulos para batizarem em seu nome, segundo a fórmula trinitária (Mt 28:18-20). Quando somos batizados, Cristo nos faz a mesma promessa que fez individualmente ao ladrão arrependido.

  1. Existe regeneração prévia e posterior ao Batismo? Como elas diferem?

Ordinariamente, não existe regeneração prévia ao Batismo. Existe uma operação da graça no coração do homens para que eles tenham o dom da fé e, através dessa fé, sejam salvos. Essa operação da graça ainda não é a regeneração definida na primeira pergunta. Nesses casos, essas pessoas ainda não foram remidas dos seus pecados e unidas a Cristo. Ainda aguardam esse momento, no qual receberão essas coisas pela fé. É o caso de Paulo, que só recebeu a remissão (no Batismo) três dias depois de saber que Cristo é o Senhor (cf. At 22:16). Depois do Batismo, nós devemos vivenciar a graça da regeneração por toda a vida. Ela é concedida num momento, mas devemos operar nossa salvação ao longo da vida (Fp 2:12-13), isto é, devemos cooperar com a graça recebida, crescer nela, jamais resistindo a ela.

  1. É possível distinguir entre o Batismo sacramental e o “Batismo no Espírito Santo” (como segunda bênção)?

Há um só Batismo (Ef 4:5), que é o sacramento. Nós podemos e devemos vivenciar esse Batismo ao longo da vida, e isso pode incluir certas experiências de enchimento do Espírito Santo que se manifestam em santidade de vida e dons particulares. Essas experiências não são literalmente um segundo Batismo, mas uma manifestação do primeiro Batismo. Em muitos batizados, a graça interior e espiritual recebida no sacramento é adiada por muitos anos, através de incredulidade, pecado, ignorância e mil outras circunstâncias. Eu não tenho nenhum problema com que o nome de “Batismo no Espírito Santo” seja usado para indicar uma vivência mais plena do poder do Espírito Santo, desde que isso não seja usado para corromper nossa leitura bíblica, como se os textos que falam de “Batismo” na Bíblia se referissem apenas a essa experiência e não ao sacramento. Mais uma vez: há um só Batismo.

  1. O Batismo limpa o Pecado Original? Por que continuamos com a predisposição ao pecado?

Pode-se dizser que o Batismo limpa o Pecado Original no sentido que, no sacramento, nós deixamos de estar presos ao pecado, isto é, recebemos a graça que nos habilita a que o pecado não tenha mais domínio sobre nós (Rm 6:14). É importante entender que essa predisposição ao pecado é um defeito da nossa vontade, ocasionado pelo Pecado Original, mas que o Pecado já está em nós antes de sermos capazes de tomar “decisões”. O Pecado Original consiste em nosso desligamento espiritual em relação a Deus, a morte da alma (assim como a mortalidade do corpo), e através do Batismo nós recebemos a vida de Cristo. Nós recebemos a graça que nos livra do domínio do pecado, mas ainda estamos feridos pelo pecado. O Batismo não elimina essa inclinação automaticamente, embora, em alguns casos, possamos testemunhar pessoas que, depois do Batismo, tiveram grande avanço na sua santificação e puderam deixar certos hábitos do pecado.

  1. Regeneração Batismal é compatível com credobatismo?

Creio que não. Há certos grupos que tentam unir as duas coisas, mas, nesses casos, a salvação se torna mérito nosso antes do mérito de Cristo. A Regeneração Batismal leva naturalmente ao batismo de crianças, porque nenhum motivo teológico pode ser forte o suficiente para excluir as crianças da graça.

Rev. Gyordano M. Brasilino

A Ascensão do Amor: a fé das crianças e a oração dos animais

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Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. Apocalipse 5:13

O que significam tantos trechos das Escrituras Sagradas que falam da adoração que as criaturas todas, não só anjos e homens, prestam ao Criador?  O Salmo 148 foi composto como um convite a essa adoração universal ao Criador, da qual os astros e as menores criaturas terrenas participam, e diversos outros textos incorporam o mesmo espírito. O Cântico das Criaturas, de São Francisco, está em nobre companhia.
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A Doutrina Anglicana dos Sacramentos

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“Em nenhuma religião, seja verdadeira, seja falsa, se pode juntar os homens sem algum consórcio de sinais ou sacramentos visíveis.” Santo Agostinho, Contra Faustum 19.11

Gosto de dizer, fazendo graça e com um fundo de verdade, que eu me tornei anglicano por causa do batismo de crianças, rejeitado por tantos evangélicos. Poucas práticas da Igreja mostram tanta beleza na simplicidade e tanta verdade evangélica quanto o amor de Cristo que ali se lança sobre os pequeninos. Todo o Evangelho está ali, implícito ou explícito: o amor de Deus pela criação, a queda da natureza humana, a universalidade do pecado, a necessidade da graça regeneradora, a iniciativa divina na salvação, a Cruz e a Ressurreição, a presença da Igreja, a Santíssima Trindade. Se alguém tem dúvida sobre o princípio Sola Gratia, olhe para o batismo das crianças, que nada contribuem para a própria salvação, antes tudo recebem. Afinal, elas são um grande símbolo do Reino. Continue lendo “A Doutrina Anglicana dos Sacramentos”

Exorcismos, Juramentos e Maldições

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Deus nos confiou a oração como para nos ceder a “dignidade da causalidade”, escreveu Pascal. Ele nos permitiu, em certos momentos, ser agentes de Sua Providência, de maneira a fazer através de nós aquilo que Ele poderia fazer sem nós, como que nos honrando por pura bondade. Deus não quis condenar Abimeleque, que tinha um coração sincero, mas só agiu em seu benefício depois da intercessão de Abraão: “ele é profeta e intercederá por ti” (Gn. 20:7). Deus desejou honrar a oração de Abraão, o mesmo que Ele faz através de nós sempre. Continue lendo “Exorcismos, Juramentos e Maldições”

O Pecado do Rebatismo

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Falar sobre rebatismo é falar sobre a minha vida. Eu preparo candidatos ao Santo Batismo, assim como padrinhos e pais, e esse papel me coloca em contato constante com os dilemas e esperanças de muitas pessoas — desejos de vida nova, de rompimento com o pecado e com o passado, de receber a graça divina sobre si. Mesmo quando falta a linguagem adequada para descrever a experiência almejada, e até quando a linguagem está errada, no fundo as pessoas sabem o que é o Batismo. O sinal visível é mais forte que qualquer erro teológico. Continue lendo “O Pecado do Rebatismo”

​Sola Fide leva ao Batismo Infantil

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Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?
(1Coríntios 6:9)

É comum ouvir de representantes da tradição batista lato sensu — o pessoal que crê na exclusividade do batismo por imersão e nega o batismo infantil — que a Reforma realizada pelos primeiros reformadores não foi suficientemente radical, e que por isso era necessário ir adiante. Os reformadores não teriam tido coragem de eliminar da Igreja Católica elementos em desacordo com a doutrina e prática originais do cristianismo. Continue lendo “​Sola Fide leva ao Batismo Infantil”

A Eficácia da Circuncisão

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“Nisso, porém, consentiremos a vós: se fordes como nós; que se circuncide todo o homem entre vós; Então dar-vos-emos as nossas filhas, e tomaremos nós as vossas filhas, e habitaremos convosco, e seremos um povo;” (Gênesis 34:15,16)

A associação entre batismo e circuncisão, suposta em Cl. 2:11,12, é um dos fundamentos teológicos da defesa do batismo infantil. Essa relação pressupõe que a circuncisão seja um ritual eficaz, que realiza algo. Certamente a circuncisão não é mágica; cortar um pedaço de pele não tem qualquer poder especial inerente. Mas a circuncisão é mais do que simplesmente cortar um pedaço de pele. É o “selo da justiça da fé” (Rm. 4:11). De fato, aqueles que não fossem circuncidados estariam excluídos da aliança divina: Continue lendo “A Eficácia da Circuncisão”

Batismo infantil, família e conversão

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“Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:26-28)

Há uns poucos anos atrás, o professor Michael Bird escreveu (leia aqui) em defesa do chamado “batismo dual” — a prática de algumas comunidades cristãs de se permitir pragmaticamente tanto o credobatismo quanto o pedobatismo. A prática do batismo dual ocorre, por exemplo, quando comunidades confessionalmente pedobatistas não exigem disciplinarmente de seus membros que levem seus filhos à fonte. Continue lendo “Batismo infantil, família e conversão”

Notas sobre o Batismo

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“O Batismo é o sacramento mediante o qual, pelo arrependimento e pela fé, recebemos esta salvação: unimo-nos a Cristo na sua morte; obtemos o perdão dos nossos pecados; somos feitos membros do seu Corpo; e com Ele nos elevamos a uma vida nova no Espírito.” (LOCb)

A coisa mais impressionante que a Sagrada Escritura diz sobre o batismo é que ele “salva”: sōzei baptisma (1Pe. 3:20,21). Diferentemente do que prega o zuinglianismo, tão comum entre evangélicos brasileiros, o batismo jamais é descrito nas Escrituras como “apenas um símbolo”. Na realidade, a Escritura jamais diz ou dá a entender que o batismo é um símbolo, em primeiro lugar. No texto de 1 Pedro, o Dilúvio foi o símbolo; a realidade simbolizada é o batismo. Quando se utiliza a palavra “símbolo” para o batismo, trata-se de linguagem meramente fenomenológica, e não de uma descrição fundada na Revelação. Continue lendo “Notas sobre o Batismo”